13 de outubro de 2010

Grupo Nacional ou Minoria Nacional II

Na minha opinião, quando se pergunta a um português a que grupo nacional ou a que minoria ele pertence, o português não sabe responder. Não compreende. Não existe estes conceitos na nossa cultura, no nosso pais. Mas a nossa historia até tem bastantes exemplos deles.

Provavelmente a resposta mais obtida será referir os distritos, o norte, o alentejo, o algarve, Lisboa e Porto. Mas estas diferenças regionais (que as há) formam uma minoria ou um grupo nacional? Um grupo étnico?

Quando eu pensei neste dilema perguntei a mim mesmo "Um portugues do norte tem alguma diferença seria de um portugues do sul?" No fundo somos todos portugueses. A identidade nacional é a mesma Não existe uma diferença séria. Custou-me bastante compreender este conceito e no fim conclui que para o nosso pais, pura e simplesmente não se aplica.

Esta questão surgiu-me durante um workshop na ONG onde vou efectuar o EVS. Ao discutir estereótipos e "prejudices" começou a aparecer a pergunta "qual é o teu grupo nacional? a que minoria pertences?". Imediatamente perguntei para definir o que é um grupo nacional ao que a minha resposta foi "Welcome to Vojvodina!".

Para mim um dos grandes choques culturais com a minha mudança para a sérvia foi ter ganho toda uma nova noção de interculturalidade, de minorias nacionais e étnicas que antes não possuia. Quando me perguntam como é a Sérvia/Balcãs a minha resposta é "It's a big mess". É uma miscelania de pessoas de grupos étnicos e religiosos misturados no mesmo local. Cada pais tem uma série de paises vizinhos. Quem sabe uma lingua de um pais da ex-jugoslavia sabe falar pessoas de todos os paises da ex-jugoslavia! Eu se me meter num comboio em 12h tenho mais de 10 capitais europeias nas mãos.

Na minha opinião, Portugal sofre de um auto-isolamento, enraizado na nossa cultura, nas nossas pessoas mas também na nossa geografia. Mas não na nossa história, excepto a história recente. Graças ao Salazar sofremos 40 anos de puro auto-isolamento. "Orgulhosamente Sós". Mesmo tendo entrado para a UE relativamente cedo, as pessoas de Portugal são culturalmente isoladas. Existe o estigma do estrangeiro, do emigrante, do imigrante. Tal como disse num post, só agora Portugal está a ter um refrescamento geracional que permite uma abertura para a Europa, um refrescamento em que a população activa é a população nascida no pós 25 de Abril e que não sabe o que é a censura, o isolamento.

Embora a nossa história não o demonstre, temos também um isolamento cultural, quase de sangue. Mesmo sendo um pais de imigrantes, não existe nenhuma minoria, nenhum grupo étnico em Portugal. Desde a expulsão dos jesuitas ao Salazar, quem vive em Portugal é Portugues. Somos educados desde a escola primária num ideal de que Portugal foi grande com os descobrimentos mas que isso já acabou. O D. Sebastião anda está para chegar.

Somos ensinados que Portugal é o pais mais velho da Europa, é o pais com as fronteiras mais velhas da Europa. Portugal não tem registo de conflitos internos desde...não sei, as invasões francesas? O reinado espanhol? A guerra civil entre D. Pedro e D. Miguel? E mesmo assim a soberania Portuguesa nunca foi verdadeiramente alterada. Os espahois estiveram aqui mas Portugal era Portugal, tinha era um rei Espanhol.
 
E agora vejo-me inserido numa região, num pais, numa provincia que é famosa por, até à II Guerra Mundial, ser conhecida por um terço da população ser Sérvia, um terço ser Alemã e um terço ser Húngara. Uma região que sofreu bastante com as duas guerras mundiais. Um país que até recentemente pertencia a uma confederação de paises que era um regime comunista (socialista?) renegado por Moscovo e que continha o melhor do mundo comunista e ocidental, onde as pessoas podiam movimentar-se à vontade e com um alto standard de vida.

Ainda não percebi como é que um unico homem, Tito, pode fazer isso mas até o Churchill gostava de tomar pequeno-almoço com ele. O problema foi quando Tito morreu e a Jugoslávia caiu e comunidade inteiras foram apanhadas em movimentos nacionalistas e declarações de independência. Não é possivel ou um grupo nacional querer declarar a sua independência quando não são o grupo maioritário, ou mesmo sendo, o processo não é pacifico com os outros grupos. E foi o que aconteceu, gerou-se conflito levando às guerras nos Balcãs.

Por isso hoje cada pessoa tem a sua história pessoal. A mistura foi sempre possível, seja entre sérvios, húngaros, albaneses, macedónios, bósnios (entre estes podemos pegar nos bosniaks (bósnios muçulmanos) bósnios croatas, bósnios sérvios), croatas, eslovenos, montenegrinos, romenos, búlgaros, gregos, turcos. Existem várias minorias nacionais reconhecidas na Sérvia: bosiak, bulgaros, Bunjevac, croatas, hungaros, Ashkali, Macedónios, Romenos e Ruthenos. Todos estes têm um assento na assembeleia de Vojvodina para defender os seus interesses e promover a interculturalidade.

Até pela história, os Balcãs foram divididos entre dois impérios: O império Austro-Hungaro e o império Otomano (Turco). Essas diferenças podem ser vistas, por exemplo, em Novi Sad em que a margem sul do rio Danúbio tem influencias Otomana e a margem norte tem influencia Austro-Hungara, por exemplo na arquitectura dos edifícios.

Portanto pergunto mais uma vez, caso se pretendesse fazer uma assembleia de minorias em Portugal, quais seriam?

Finalmente gostaria de concluir com o caso de Lisboa. Sendo uma capital Europeia esta pergunta e situação começa a fazer sentido. Embora as minorias ainda sejam recentes, as mais antigas são as comunidades africana que emigraram depois da guerra colonial, ou seja, têm 30 anos. Esta seria uma ideia interessante e importante para a situação lisboeta e para prevenir futuros conflitos. Porque de momento existem as comunidades africanas, as comunidades de leste, comunidade chinesa, indiana, etc.


11 de outubro de 2010

Gay Parade - Belgrade

Ontem, dia 10 de Outubro de 2010, decorreu a "primeira" parada Gay Pride em Belgrado. Digo entre aspas porque a primeira que ocorreu foi em 2001 mas que foi interrompida por ataques e a policia não estava preparada para proteger os participantes.

Em 2009 planeou-se efectuar uma segunda parada mas, após inumeras ameaças violentas de organizações de extrema-direita, foi cancelada pelo governo por medo da violencia e sendo adiada para 10 de Outubro de 2010.

Portanto ontem, mais de 1000 pessoas compareceram e participaram na primeira parada Gay em Belgrado. Protegidos por mais de 5000 policias do corpo de intervenção, a parada foi efectuada com sucesso durante o planeado trajecto.

No entanto mais de 6000 elementos de organizações de extrema-direita, hooligans e vândalos em geral tentaram o ataque e semaram destruição e pilhagem pela cidade de Belgrado. 158 pessoas sofreram ferimentos, a grande maioria policias e 3 pessoas foram hospitalizadas. A policia prendeu 249 elementos dos quais o lider de um grupo de extrema-direita. Os prejuizos totais contam-se em 1 milhão de Euros. A sede do partido em poder, O partido Democrata, foi atacado, juntamente com a sede de televisão estatal, RTS. O caso mais irónico de ataque foi uma unidade móvel de rastreio de cancro da mama da televisão B92.

Apesar desta situação, a parada aconteceu. É um dia histórico e uma vitória para as organizações de defesa dos direitos do homem e de liberdade pessoal. No entanto esta parada tinha de acontecer por diversas razões. A UE imperou ao governo sérvio para apoiar e proteger a parada de modo a demonstrar o seu apoio e abertura à defesa dos direitos do homem. A candidatura da Sérvia à UE vai ser discutida em conselho europeu brevemente e apenas um país está na dúvida, a Holanda, devido aos criminosos de guerra da bósnia que ainda não foram capturados.

No entanto a igreja ortodoxa mostrou a sua vontade contra e 6000 pessoas a espalhar o caos e a desordem pela cidade é uma demonstração de que muita coisa ainda tem de mudar, principalmente na opinião pública. No entanto também ficou demonstrado que estes protestos são apenas uma desculpa para o vandalismo e as pilhagens e não tem nada a ver com homofobia. O problema está na força dos movimentos de extrema-direita que ainda existem e na opinião pública acerca destes assuntos.

Uma última nota acerca dos vários comentários que vi nas noticias de jornais portugueses, principalmente do Público. É incrível a ignorância e arrogância de quem comenta estas várias noticias, sendo que qualquer noticia sobre um país da "Europa do leste" é imediatamente relacionada com os prévios governos comunistas ou então vários comentários estereotipados e discriminatórios. Mas como se costuma dizer, em cada português existe um treinador de bancada e os comentários na Internet geralmente são para ignorar.

7 de outubro de 2010

Balcãs: Sérvia - Kosovo

Existem várias situações de "conflicto" nos Balcãs:

Sérvia

A situação óbvia é o problema Sérvia - Kosovo. A declaração unilateral independencia do Kosovo em 2008, pela maioria albanesa tanto politica como social e populacional, com mais de 90% de população albanesa gerou um precedente único. Com a independência reconhecida por meio mundo, o governo Sérvio continua a tentar lutar pelo reconhecimento de que a declaração de independência foi ilegal e um ataque à soberania do seu país e aos cidadãos sérvios no Kosovo e que o Kosovo pertence à Sérvia, por variadas razões.

Presentemente já consigo perceber a situação do Kosovo por ambos lados da barricada. O Kosovo sempre foi uma província autónoma sérvia/jugosava excepto durante ambas guerras mundiais e que foi oferecida à Albânia durante a segunda guerra mundial, excepto a ponta norte. No entanto o kosovo sempre foi maioritariamente etnicamente albanês, sendo até o berço da resistência albanesa que levou à criação do estado independente de Albânia. Sempre uma região bastante disputada etnicamente, com o regime de Milosevic a maioria albanesa foi altamente reprimida levando à intervenção da NATO com os bombardeamentos da Jugoslávia que levaram à queda do regime de Milosevic e o controlo do Kosovo por forças das Nações Unidas, a famosa KFOR. Em 2008 o Kosovo declarou independência.

Não é difícil entender porque é que uma região onde 90% da população pertence a uma etnia que não à do país onde estão incluída declara independência unilateralmente. Principalmente se essa declaração tem o apoio dos USA e UK e é vista como um castigo à Sérvia pela guerra do Kosovo e regime do Milosevic. Por essa mesma razão não é difícil perceber que a Sérvia vê a independência do Kosovo como um roubo de território e um castigo politico do após guerra e como um perigo à sua soberania e cidadãos sérvios presentes no norte do Kosovo. Para a população sérvia serem vistos como os perdedores da guerra, os maus da fita, serem bombardeados unilateralmente pela NATO (USA?) e, no fim de tudo, perderem a região do Kosovo foi a gota de água.

No entanto o Kosovo não tem nenhuma importância estratégica, politica ou económica. Uma região extremamente pobre, sem recursos naturais e com variados conflitos étnico-religiosos. Com metade do mundo a reconhecer a independência do Kosovo, com os tribunais internacionais a reconhecerem a independência do Kosovo e com menos de 10% de população sérvia, o Kosovo é uma luta perdida.

De momento o grande ponto é que a questão do Kosovo é um entrave da Sérvia na União Europeia, que não poderá ser aceite como país candidato sem resolver esta questão primeiro. E resolver a questão do Kosovo significa que dirigentes sérvios sentem-se à mesa com dirigentes Kosovares e dialogar no sentido de aceitar o Kosovo como país independente. O actual presidente sérvio deu uma volta na sua acção e tudo aponta que isto poderá acontecer em breve. Com a Sérvia a ter entregue o draft de acesso à UE, com a Eslovénia já na UE e a Croácia como país candidato, a não inclusão na UE seria um rude golpe na economia e a continuação da isolação politica.

Para além da grande ferida que foi a declaração unilateral do Kosovo, a Sérvia, a meu ver, não tem nada a ganhar em continuar a luta.

Digo isto porque nem a Albânia quer o Kosovo. No momento de declarar a independência do Kosovo existiu a possibilidade de o Kosovo se juntar à Albânia. Obviamente que se isso se concretizasse seria quase uma declaração de guerra. A Albânia apoiou a independência mas mais que isso foi posto de parte.

De todos os Kosovares que conheci, a sua resposta a que nacionalidade eles possuem foi "Albanesa". Qualquer Kosovar se sente albanês (ou Sérvio). A imagem que me lembro da independência do Kosovo foi de ver pessoas a festejar com bandeiras Albanesas e dos USA. Existem avenidas chamadas "George Bush" ou "Tony Blair" em Pristina. Não existe ainda o sentido de nacionalidade Kosovar. Mas para um país com 2 anos e que agora mal começou a dar os seus primeiros passos, tudo pode acontecer.

3 de outubro de 2010

Kronos Quartet - Requiem for a Dream

Requiem For a Dream continua a ser um dos meus filmes preferidos. Então a banda sonora por Kronos Quartet...

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