29 de abril de 2011

Crónica A Barca: Kosovo

Kosovo

Não quero aqui falar sobre a questão da declaração de independência do Kosovo, quem tem razão ou não, se deve ser suportada o não. Quero falar da minha experiência quando visitei o Kosovo o ano passado em Outubro numa visita de estudo de uma organização Sérvia. Como tenho referido, as fronteiras físicas do Kosovo não coincidem com as fronteiras demográfica, contendo quase 90% de população albanesa e quase 10% de sérvios (concentrada no norte), para não falar de bósnios e turcos. Isto pode ser visto pelo país, onde há uma mesquita há uma igreja ortodoxa, onde há uma bandeira do Kosovo há uma bandeira da Albânia ou, no caso do norte, bandeiras Sérvias. Por exemplo, quando Hillary Clinton recentemente visitou o Kosovo, pediu para retirar as bandeiras albanesas por onde a comitiva passaria. No Kosovo visitámos a capital, Pristina, e Prizren. Em Prizren, uma cidade tri-cultural, as línguas oficiais são Sérvio, Turco e Albanês, ouvindo as três línguas facilmente pelas ruas onde as pessoas podem dialogar na língua que se é mais confortável para a situação.

As palavras para definir Pristina é caos e pó, tudo está em construção, o ordenamento da cidade e a construção ilegal são grandes problemas. Embora Pristina tenha 98% de população albanesa, não existem problemas em falar sérvio tanto que  a maioria da população acima dos 25 anos é bilingue, falando albanês e sérvio, devido ao Kosovo ter pertencido à Jugoslávia e Sérvia. A situação é pacífica e não há problemas de represálias só por se falar sérvio, algo que muitos dos sérvios que me acompanharam tinham receio e de fazer. O grande objectivo da visita de estudo foi mesmo este, desmistificar estereótipos e preconceitos que muitos sérvios e albaneses do Kosovo têm acerca uns dos outros. Antes desta visita, o grupo kosovar tinha visitado a Sérvia onde experienciaram a mesma situação e surpresa, de que é possível falar albanês nas ruas de Novi Sad ou Belgrado sem problemas. Só através do diálogo e partilha de experiências é possível transformar este conflito.

Crónica A Barca: Resistência

Resistência!

Otpor! (Resistência!) foi um movimento juvenil pacífico que teve um papel decisivo na queda de Slobodan Milošević em Outubro de 2000. Com início no movimento estudantil, em 1998, após os bombardeamentos da NATO, devido à guerra do Kosovo, a Otpor começou uma campanha política contra Milošević resultando na prisão de quase 2000 elementos, muitos dos quais foram agredidos. Durante as presidenciais de 2000, lançaram uma campanha que resultou na descredibilização de Milošević levando à sua derrota, na chamada “Revolução de 5 de Outubro”.

A Otpor baseou-se, e recebeu treino, no trabalho de Gene Sharp sobre resistência não-violenta, que diz que o poder não está na mão de quem comanda mas sim de quem obedece, ou seja, caso não exista obediência de um povo o seu líder perde o poder, cabendo ao povo reconhecer que detém o poder. Sharp indica vários passos e estratégias de como efectuar uma resistência pacífica, inspirando vários movimentos e revoluções pelo mundo fora.

A Otpor foi um de primeiros movimentos deste género na Europa de Leste seguindo-se da Geórgia, Ucrânia, Quirguistão e Bielorrússia. As revoluções Tunisina e Egípcia também seguiram o trabalho de Gene Sharp, tendo recebido treino da Otpor, com resultados que podemos observar.
De referir que a Otpor acabou por desaparecer após a queda de Milošević pois não conseguiram catalisar o seu sucesso e apoio numa posição ideológica e política. No fundo, era claro o que a Otpor lutava contra mas ninguém sabia o que eram a favor após a queda do regime.
Fazendo um paralelo com a situação actual em Portugal, é com muito agrado que vi a manifestação apartidária de 12 de Março ocorrendo uma forma totalmente pacífica mas penso que a solução não é ser do contra mas sim criar algo concreto que possamos suportar para melhorar a situação do país. Felizmente, ao contrário dos correntes regimes árabes que estão a sofrer revoltas, temos liberdade e ferramentas democráticas ao nosso dispor para demonstrar a nossa opinião, discutir e criar ideias.


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