5 de novembro de 2010

Economia e educação

Deparei-me com duas excelentes palestras presentes na RSA (Royal Society for the encouragement of Arts, Manufactures and Commerce).

 A primeira, por David Harvey, fala-nos da crise económica e das suas razões, sejam económicas ou culturais.

Esta palestra tenta explicar o porquê da crise e as suas consequências culturais. Também explica a razão corrente do capitalismo.

Como se sabe, o capitalismo necessita duma circulação de dinheiro continua e de um aumento de consumo continuo. Logo as pessoas necessitam de um continuo aumento de dinheiro disponível para o poder gastar. Como indicado isto foi efectuado não por um aumento continuo de salários mas sim por um acesso fácil ao crédito e exploração de factores culturais.

Quando a bolha rebenta, porque não pode durar para sempre, quem tem dinheiro faz mais dinheiro e quem não tem dinheiro fica sem o pouco que tem. Porque? Porque não existe um sistema de educação acerca de economia/finanças. Em nenhuma parte do percurso escolar é ensinado como funciona e economia do mundo ou de um país. O que leva a pessoas adultas totalmente ignorantes acerca de algo tão simples mas importante como económica/finanças familiares. Tal como não há informação acerca dos perigos e vantagens dos vários produtos financeiros existentes. Daí não ser surpreendente que grande percentagem das famílias está endividada e sem poupanças. Não é ensinado o que se deve fazer com dinheiro.

Tal como não é surpreendente os ricos ficarem mais ricos em momentos de crise, pois é possível fazer dinheiro com mercados a subir tal como a descer! Principalmente a descer em que o investimento é altamente alavancado. Sabendo isto não é surpreendente que as crises sejam cíclicas e volta e meia tenha de acontecer uma.


A segunda, por Sir Ken Robinson, acerca do paradigma actual da educação.

Esta palestra fala na estandardização da educação que foi pensada na altura da revolução industrial. De momento a educação básica em vez de estimular as crianças e ensina-las a pensar, ou melhor, ensina-las a não perder a criatividade e ingenuidade cerebral (imaginação) que tão bem caracteriza uma criança, não, ensina-a a seguir o livro, a procurar uma solução e a obter uma formula que explique tudo e a não fazer perguntas.

Na minha opinião a morte das escolas profissionais e a existência de cursos e profissões não altamente qualificadas gerou a situação de que um jovem tira um curso e no fim não sabe fazer nada. O ensino primário deve ser altamente diversificado e com uma abordagem de educação não-formal, onde a criança deve aprender a ter pensamento critico, socializar e trabalhar em equipa, filtrar e analisar informação tal como a pesquisar e saber questionar, praticar a sua capacidade artística e musical e desenvolver certos capacidades matemáticas e intelectuais. Por exemplo não é aprender a tabuada através de decorar e repetição mas sim perceber o mecanismo inerente à tabuada e a como conseguir chegar a qualquer resultado analisando as suas parcelas.

No ensino secundário o jovem deverá ter uma percepção das suas capacidades e estilo de trabalho e também qual será o seu talento. Quando digo por talento o que o jovem tem prazer em fazer e naquilo que é bom, o que geralmente está relacionado. Com esses dados o jovem deverá ter acesso às suas futuras escolhas e lentamente a ser redireccionado para a sua vocação futura. Entretanto deverá ter acesso a educação como pessoa e cidadão, ter educação económica, financeira e politica. Se é permitido a um jovem votar com 18 anos, com 18 anos o jovem deverá ter capacidade para entender o sistema politico e formular o seu voto de forma independente e de acordo com aquilo que acredita.

Ao escolher um curso na universidade o jovem terá acesso a um curso altamente especifico e especializado onde o choque não será tão grande e facilmente efectuará tarefas por si mesmo com pensamento critico e criatividade. Hoje em dia é ensinado a pensar na universidade (quando é) e escrever um texto, efectuar uma pesquisa ou uma tarefa por si própria é um horror para qualquer caloiro.

Só assim uma pessoa pode estar preparada para o mercado de trabalho, seja quando sai do secundário ou do ensino superior. De momento um jovem que acabe o 12º não é nada, não tem capacidade nenhuma ou especificação para nada. E muitos dos cursos superiores são apenas uma continuação do ensino secundário.

Isto é a minha visão utópica. Quando digo que uma pessoa deve ser altamente qualificada e especializada não digo que só deverá saber fazer uma única coisa. Digo que deverá saber fazer uma coisa extremamente bem de modo a tornar-se um valor acrescentado e porque, de momento, é assim que o mercado trabalha. Se tiveres algo extra para oferecer és valorizado, se não vais fazer trabalho macaco. No entanto o sistema de ensino mata esta especificidade mas ao mesmo tempo não permite a uma criança/jovem desenvolver os seus possiveis talentos. A educação musical já não existe, para não falar de artes. Filosofia e psicologia devem estar quase (retórica por exemplo) e desporto idem idem. A forma como matemática é ensinada é um crime e história é ensinada by the book e de forma totalmente fechada.

Por outro lado o problema não é só no sistema educacional mas também no trabalho dos pais. Existe uma cada vez maior desresponsabilização do poder parental mas por outro lado os pais têm cada vez menos tempo livre para os filhos. A família está a ser dividida e isolada, para não falar das comunidades.

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