13 de dezembro de 2010

Wikileaks

Muito se tem falado do Wikileaks, do Julian Assange principalmente agora com o Cablegate, mas poucos sabem realmente do que se trata.

O Wikileaks não é novo nem é de agora. O Wikileaks foi criado em 2006, já na altura com pompa e circunstância. O seu lema e funcionamento era obter documentos secretos ou não, que estivessem escondidos do público e que pudessem expor a público algo que seja ilegal ou controverso. Como todas estas novas redes, vivia à base do contributo pessoal para enviar documentos e ao contributo da sua respectiva tradução para outras línguas.
Na altura pesquisei e já existiam vários documentos com potencialidade, até documentos relativos a Portugal e em Português.

Os grandes leaks foram sobretudo relacionados com a guerra do Afeganistão e do Iraque, em que o ponto alto foi quando divulgaram um vídeo de um helicóptero dos EUA a assassinar (é esta a palavra) jornalistas da Reuters bem visíveis enquanto os pilotos comentavam jocosamente. Entre outros documentos mostra provas de mortes civis e torturas ilegais.

O grande boom foi agora com o Cablegate.  

O que é o Cablegate?
O Wikileaks teve acesso a cerca de 250mil telegramas (muitos deles classificados e secretos) das embaixadas americanas espalhadas por todo o mundo desde 1966 a 2010. E é pura e simplesmente isto.

Aparentemente estes documentos foram obtidos por um soldado estacionado no Iraque que fez download de material classificado e posteriormente entregou este material ao Wikileaks.

Qual a importância destes telegramas?
Estes telegramas são de todos os tipos, muito deles secretos e classificados. Ou seja, foram escritos assumindo que nunca seriam revelados ao público. E é aqui que está todo o problema.
Estamos a falar de diplomacia. Todos as embaixadas e pessoal diplomático troca mensagens entre si e o país de origem, tal como obtêm ordens. Estamos a falar de diplomacia.

Usando uma analogia, é o mesmo quando as vizinhas se reúnem entre si. São todas amigas umas das outras, fazem perguntas e mandas postas de pescada para o ar, tentam obter o máximo possível de informação. Quando a vizinha A volta a casa conta a sua versão e interpretação à amiga B.

E é disto que se trata. Opiniões, perfis psicológicos, informação e decisões de reuniões, ordens e acontecimentos, troca de correspondência secreta entre as embaixadas e o país onde está essa embaixada.

Muita desta informação pura e simplesmente não seria suposta ser de conhecimento público! Mas neste momento é!

Qual o impacto?
Os telegramas estão a ser revelados muito lentamente. Por exemplo, até hoje foram revelados 1344 de 251287 telegramas. Muitos deles contêm informação não polémica, muitos deles contêm informação factual e pública. Mas alguns deles contêm informação que se fala mas que nunca foi confirmada oficialmente. E alguns contêm informação que não era suposta sair a público e que pode gerar problemas!

A vizinha A quando conta a coscuvilhice à sua amiga B sobre a vizinha C, não espera que a B vá contar à C o que A pensa dela. E se isto acontece, há problemas.

Ora se eu sou o presidente dos EUA, não vou gostar nada disto.

O que aconteceu até agora?
Dos telegramas revelados muitos não eram importantes e muitos deixaram a sensação de "mas isto eu já sabia". Mas alguns são realmente novos e trazem novos factos à luz do dia.

Os telegramas estão a ser divulgados com a ajuda de 5 jornais internacionais, o The Guardian, o Der Spiegel, o El pais, o Le Monde e o The New York Times. Todos os telegramas estão disponíveis para download via torrent. Visto que a informação tem de ser interpretada e analisada, os dados estão a vir a público muito lentamente.

Muita gente não ficou contente com o Wikileaks e o seu lider, Julian Assange.

O site começou a ser atacado com DDoS horas antes da revelação inicial. O servidor de domínios onde Wikileaks estava registado cancelou o domínio. O Wikileaks mudou-se para servidores da Amazon mas esta cancelou posteriormente. O PayPal congelou a conta do Wikileaks impossibilitando a doação de dinheiro através do PayPal. O banco suiço onde Julian Assange e Wikileaks tinham alguns fundos congelou as suas contas. Nesse mesmo dia a Visa e a MasterCard cancelaram pagamentos para o Wikileaks. Aparentemente o Twitter e Facebook cancelaram e censuraram contas e posts relacionados com Wikileaks.

O Wikileaks para contrariar a tentativa de fecho do site, efectuou um pedido público a quem tenha um servidor para alojar uma cópia do Wikileaks. Neste momento existem mais de 1500 mirrors que são actualizado sempre que o Wikileaks é actualizado.

Julian Assange foi acusado, pela Suécia, de violação e posteriormente por relação sexual sem preservativo sem consentimento (que aparentemente é ilegal na Suécia) e mais tarde foi emitido um mandato de captura internacional pela Interpol. Julian Assange foi preso no Reino Unido após ter entrado em contacto com a policia britânica e ter combinado uma reunião, de forma voluntária.

Quais as reacções?
Para além de reacções do público e imprensa reclamação da liberdade de expressão e liberdade de imprensa, entrou em acção a Operation Payback.

Esta operação coordenada mas descentralizada, feita por jovens hackers de todo o mundo, começou a efectuar ataques DDoS a sites de entidades que estão contra o Wikileaks, mandando abaixo temporariamente o site do PayPal, MasterCard, Visa, entre outros.

Vários políticos mundiais têm demonstrado a sua posição a favor ou contra o Wikileaks.

E agora?
Mesmo com Julian Assange preso, o Wikileaks continua. Com a sua rede de servidores mirror e com várias pessoas a trabalhar para o Wikileaks, os telegramas continuam a ser divulgados. Alguns jornais já começaram a analisar por eles próprios os telegramas. Já começam a aparecer novos sites com o mesmo propósito do Wikileaks.

Há muito mais a acrescentar a esta história, mas queria apenas deixar uma explicação rápida para perceber o que realmente está a acontecer.

Uma das criticas que vejo ao Wikileaks é que apenas ataca os EUA e não outras potencias mundiais. Isto não faz sentido pois é a divulgação de telegramas de embaixadas dos EUA e não embaixadas de outros países. Muita desta informação diz respeito aos países da embaixada mas é sempre escrita tendo em conta os interesses americanos.

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