10 de março de 2011

Geração à Rasca I

Muito se fala da Geração à Rasca e da manifestação auto-organizada. (Página da Manif no FB) (blog).

Primeiro que tudo, um disclaimer. Não estou contra qualquer movimento popular ou civil e, principalmente, auto-organizado. Quem está descontente, manifesta-se, que vá para a rua. Ver uma manifestação destas ganhar força e números sendo organizada por jovens, apartidária e pura e simplesmente espontânea, é algo que é único em Portugal e deve ser encorajado. Estou bastante curioso para ver o que vai acontecer no dia 12 de Março e quantas pessoas lá estarão. Mas, aconteça o que acontecer, será sempre uma vitória. Se estivesse em Portugal, iria ao protesto. Mesmo que seja apenas um protesto contra a precariedade. Mas existem coisas de que não concordo ou gostaria que fossem feitas de forma diferente.

Agora, o que está a acontecer? 
Infelizmente, temo que muito do que gira à volta desta Manif, e da situação dos jovens licenciados em geral, esteja a sofrer um hype pelos média. Temo também que os números estejam inflacionados pois é muito fácil clicar num botão no Facebook. Os próprios autores da Manif referem isto em entrevistas, já o li. É bom ver que as pessoas que estão por detrás disto tenham os pés bem assentes na terra. Também temo que, devido a estas razões, não se esteja a tirar partido deste movimento da melhor forma (falando com total ignorância do que eles querem fazer), seja das reivindicações ou do que vão apresentar em papel ao governo. Porque se o movimento não for aproveitado, a onda morre sem se obter nada. Gostaria muito que isto não acontecesse.

Mas e o panorama social?
Mas também sou da opinião de que muito que se fala, por exemplo naquela reportagem da SIC "Geração à Rasca", não tem razão de ser e os jovens poderão estar a exagerar um pouco (a informação que chega ao publico geral também é manipulada e exagerada pelos média).

Está certo que o desemprego está alto e que grande parte deste desemprego são licenciados. Mas primeiro, o desemprego está alto. Mas o desemprego está alto em todo o lado! Dados do INE dão:
  • 11.1% de taxa de desemprego
  • em que 22.4% são jovens dos 15-24 anos
  • e destes 27% com ensino superior.
  • Média da UE a 17 é de 9.9%
  • Média da UE a 27 é de 9.5%
  • Portugal está em 9º lugar dos 27!
  • Já agora, os USA têm 9.0%!
Ou seja, não estamos assim tão mal, isto está mau para todos! Não é desculpa mas Portugal nunca poderá ter taxas de desemprego a 5%, por exemplo. Se estivermos sempre na média europeia, é bom, se conseguirmos estar abaixo da média europeia esse dia deverá ser feriado nacional! Não somos (nem nunca fomos) dos melhores mas esta mania de que somos a Albânia da UE tem de acabar, há que ser realista.

Por outro lado, esta geração é a primeira geração a tirar um curso superior porque quer, ao contrário dos nossos pais que tiravam um curso superior porque podiam. É a geração em que o ensino superior foi generalizado e aberto a todas as classes sociais. Só que chegou ao outro extremo, basta acabar o 12º que se tem (ou tinha) basicamente entrada no ensino superior. Tive muito colega que entrou com 8 ou 9 valores no exame nacional de matemática, ou seja, chumbaram no exame de matemática mas entraram num curso. Chumbaram e foram recompensados por isso!

Foi também na minha altura que os cursos profissionais morreram, felizmente já voltaram. Ou seja, ou era ensino superior ou obras ou tropa. Foi também altura em que a proliferação de cursos e de vagas cresceu, havendo curso para tudo e para todos.

Mas existe algo que se chama mercado e algo que se chama lei da oferta e da procura. Se o número de postos de trabalho numa determinada área é X e o número de cursos para esse trabalho é maior que X, o que acontece? Simples, não é possível escoar todos esses recém-licenciados, originando desemprego.

Sim, temos desemprego nos recém-licenciados mas também temos mercados mais que saturados em várias áreas de trabalho sem que o número de vagas para esses cursos diminua ou o numero de recém-licenciados diminua. Existem jovens, hoje, a entrar para um curso que sabem à priori que não há trabalho para o seu curso. E aí não há milagres! Quem deve ditar isto? Os jovens, o mercado, as universidades, o governo?

Sim, concordo que exista um problema de recibos verdes. Um recibo verde é para eu declarar actividade temporária ou paralela. Tenho uma banda e recebo pagamentos, faço um projecto informático para o vizinho, ou um negócio meu. Não é para trabalhar 5 anos numa empresa sem direito a subsídios ou férias. Uma empresa pode ter um empregado a tempo indefinido a recibos verdes sem ser obrigada a oferecer contracto após X tempo. É correcto? Claramente a empresa quer esse trabalhador.

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